A capital paraense, que em breve sediará a COP30, será o cenário de um encontro histórico entre o minimalismo norte-americano e a musicalidade ancestral dos povos amazônicos. Depois de 32 anos de sua criação, a obra “Águas da Amazônia” será apresentada pela primeira vez no Brasil e no território que a inspirou. O concerto do norte-americano Philip Glass, um dos compositores vivos mais influentes da música contemporânea acontece nos dias 8 e 9 de outubro, no emblemático Theatro da Paz, em Belém.

“Ao compor ‘Águas da Amazônia’, Glass trabalhou a partir de nomes dos rios e de uma inspiração geral sobre a paisagem, com arranjos originalmente realizados com os do grupo mineiro Uakti, que já trazem uma voz nacional, mas ainda sob influência de uma visão externa. Quando a obra é apropriada e executada por uma orquestra amazônica, o sentido se inverte, não é a Amazônia vista por Glass, é Glass visto pela Amazônia”, afirma Natália Duarte, diretora artística do projeto.

Com 150 anos de tradição sinfônica, o Theatro da Paz se abre para um gesto inédito: pela primeira vez, os verdadeiros guardiões dos rios da região respondem musicalmente à obra criada em sua homenagem. Agora protagonistas, os povos da floresta dão nome, corpo e identidade ao que antes eram apenas águas universais. A regência será do maestro amazônida Miguel Campos Neto, à frente da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz.

A potência desse encontro vai além da música. Dez artistas indígenas, entre eles Duhigó, Bu’u Kennedy e Daiara Tukano, levarão seus saberes visuais ao palco, criando uma ambientação que une tradição e contemporaneidade. A música popular da região estará representada pelo Trio Manari, enquanto a voz ancestral de Djuena Tikuna costura os fios que conectam a Amazônia clássica, popular e originária.

“A convergência coloca a região no centro da cena global justamente quando o mundo olha para a Amazônia como protagonista do futuro climático e cultural do planeta”, conclui Natália.

Natália Duarte

Curadoria