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Imagem de capa da exposição

34ª Bienal de São Paulo - Faz escuro mas eu canto

São Paulo

Pavilhão da Bienal

31/08/2021 - 05/12/2021

O projeto curatorial da 34ª Bienal de São Paulo pretende ampliar a mostra, multiplicando as oportunidades de encontro com a arte e reivindicando, ao mesmo tempo, o direito à opacidade tanto das expressões artísticas quanto das identidades de sujeitos e grupos sociais.

O ponto de partida do projeto curatorial da 34ª Bienal de São Paulo, Faz escuro mas eu canto, foi o desejo de ampliar a mostra, desdobrá-la, ativar cada momento de sua construção e aguçar o dinamismo de uma exposição dessa escala. Reconhecer, assim, a potência que existe em reunir um grande conjunto de obras, condensando o trabalho de uma centena de artistas e outros pensadores num único espaço, sob um único título. Conscientes, também, das limitações e contradições do formato de exposições de grande porte, e buscando dialogar com os públicos, tão amplos e tão distintos, que visitam a Bienal há décadas, propusemos expandir esta edição no espaço e no tempo. Inaugurada oficialmente no dia 08 de fevereiro de 2020, a 34ª Bienal se encerraria em dezembro do mesmo ano, mas teve sua duração estendida para o fim de 2021, em decorrência da pandemia de Covid-19.

No novo cenário, vários aspectos do projeto original foram mantidos, enquanto outros tiveram que ser modificados e adaptados. Apesar de significativas, essas modificações não alteram no cerne a concepção e o caráter do projeto, ao manter sua premissa central, qual seja, a de buscar construir de maneira transparente e dinâmica uma exposição a partir de uma metodologia fundada na troca e nas relações entre curadores, artistas, obras e público. Continuamos querendo multiplicar as oportunidades de encontro com a arte, possibilitar que conversas e trocas com as obras aconteçam em vários contextos – com diferentes músicas de fundo, diferente iluminação, diferentes acompanhamentos e acompanhantes – porque cada uma dessas situações é capaz de trazer à luz aspectos novos de cada obra e pensamentos ou sensações novas em cada observador. Por outro lado, também não se trata de que tudo venha à luz. Reivindicamos o direito à opacidade, tanto das expressões da arte quanto das identidades de sujeitos e grupos sociais. Não precisamos entender tudo, nem nos entender todos; trata-se de falar nossa língua sabendo que há coisas que outros idiomas nomeiam e nós não sabemos expressar.

Para criar um idioma comum, sabíamos que não poderíamos prosseguir abstratamente, a partir de um título ou um tema que indicasse o rumo, porque acabaríamos assim impedindo os desvios, que tanta falta nos fazem. Começamos, então, falando em artistas e obras. A partir de conversas sobre as pesquisas e estratégias de alguns artistas, um conjunto de preocupações e interesses compartilhados foi se agrupando, se repetindo e ganhando contorno. Sem tentar decidir quais palavras poderiam dar conta dessas constelações, novas obras responderam às primeiras, complementando, aprofundando, expandindo, contestando, contradizendo, reiterando, redefinindo seus sentidos. A exposição foi constituindo assim, esses núcleos se fazendo mais densos, mais sólidos, mais bem delineados e também mais complexos, menos unidimensionais.

Na busca por uma linguagem para delinear os campos de força que, imaginamos, serão criados pelo encontro dessas obras, propusemos alguns objetos, junto com suas histórias, como enunciados. Um meteorito e um fóssil que enfrentaram de maneiras diferentes o mesmo incêndio; um sino que soou em momentos diversos de uma história que se repete; as imagens do homem mais retratado de um tempo em que quase ninguém era retratado; os bordados que outro homem não teria feito se não fosse às escondidas; cartas que, para chegar a uma criança, tiveram que atravessar as grades da cadeia e os olhos da censura... Esses enunciados pontuam a exposição, sugerem o tom no qual podem vibrar as obras ao seu redor, aglutinando e tornando tangíveis as preocupações e as reflexões da curadoria. Funcionam, nesse sentido, como o diapasão que ajuda a afinar um instrumento musical, ou a começar um canto. Na curadoria de uma exposição também é almejado algo parecido com uma afinação, um ajuste não isento de erros, acidentes e (como dizíamos) desvios, que o tempo tão expandido da 34ª Bienal nos permite.

Funcionando como o primeiro desses enunciados, mais que como um tema, o título da 34ª Bienal de São Paulo, Faz escuro mas eu canto, é um verso do poeta amazonense Thiago de Mello, publicado em 1965. Por meio desse verso, a 34ª Bienal reconhece a urgência dos problemas que desafiam a vida no mundo atual, e que a pandemia tornou ainda mais urgentes e dramáticos, enquanto reivindica a necessidade da arte como um campo de encontro, resistência, ruptura e transformação. Desde que encontramos esse verso, o breu que nos cerca foi se adensando: dos incêndios na Amazônia que escureceram o dia em São Paulo aos lutos e reclusões gerados pela pandemia, além das decorrentes crises políticas, sociais e econômicas. Ao longo desses meses de trabalho, rodeados por colapsos de toda ordem, nos perguntamos uma e outra vez quais formas de arte e de presença no mundo são agora possíveis e necessárias. Em tempos escuros, quais são os cantos que não podemos seguir sem ouvir?

Ficha técnica do audioguia inclusivo

Locução: Marília Gabriela, Adriana Couto, Sara Bentes, André Trigueiro

Desenho de som e trilha sonora: Fernando Cespedes

Consultoria de acessibilidade: Mais Diferenças

Distribuição: Musea

Realização: Fundação Bienal de São Paulo e Goethe-Institut

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